A derrocada de Coyle
Dos três clubes rebaixados à segunda divisão na temporada passada, dois mantiveram seus treinadores. No entanto, como se diz na Itália, nenhum deles comerá o panetone. O desgaste entre Blackburn e Steve Kean, que passou um ano inteiro recebendo vaias dos torcedores, levou a relação a um fim natural, com o pedido de demissão do técnico. Mas curioso mesmo é o caso do Bolton, que ontem dispensou Owen Coyle.
Outrora tratado como uma divindade no Burnley, Coyle correu riscos quando assumiu o Bolton, há três temporadas. Com o campeonato em andamento, ele trocou a estabilidade no clube que reconduziu à primeira divisão depois de 33 anos pela efervescência de um Bolton destruído pelo péssimo trabalho de Gary Megson. Coyle escapou do rebaixamento e, em sua primeira temporada completa, levou o clube à semifinal da FA Cup com menos bolas longas e mais trocas de passes, estilo que lhe rendeu vários elogios. Resta entender como um treinador promissor e cativante caiu tanto em apenas 18 meses.
Na verdade, o auge marcou o início da queda. A semifinal da FA Cup foi trágica para o Bolton, goleado por 5 a 0 pelo Stoke City em Wembley. Coyle, que não contava com o volante Holden para aquela partida, poderia ter feito uma troca simples (Mark Davies, por exemplo), mas decidiu recuar Elmander, seu centroavante, para o meio-campo. O time perdeu a capacidade de recuperar a bola e organizar-se, deixou os atacantes Klasnic e Kevin Davies isolados e sofreu três gols em 19 minutos. O revés abalou demais o Bolton, que terminou 2010-11 com cinco derrotas consecutivas e a 14ª posição na liga.
Na pré-temporada seguinte, o elenco perdeu por lesões gravíssimas o winger sul-coreano Lee Chung-Yong, peça-chave nos dois anos anteriores, e o lateral Mears, recém-contratado. Eles se juntaram a Holden, outro jogador para lá de importante, no departamento médico, onde passaram mais de 90% do ano. Além das contusões, a tabela foi “madrasta”: Manchester City, Liverpool, Manchester United, Arsenal e Chelsea nas sete rodadas iniciais. Sem solidez, o Bolton perdeu 13 dos primeiros 16 jogos, ensaiou uma recuperação no segundo turno, viveu o drama de Muamba e não evitou o rebaixamento.
O início na segunda divisão também foi titubeante, com cinco derrotas e uma incômoda 18ª posição após dez partidas. A defesa frouxa, que sofreu 16 gols, ainda é o calcanhar de Aquiles (na temporada passada, em 38 jogos, foram 77 gols dos adversários). Desde o colapso na FA Cup, Coyle não conseguia montar um time seguro e parecia não se esforçar para isso. A diretoria, que havia perdoado o rebaixamento, perdeu a paciência e decidiu demiti-lo.
A impressão é de que Coyle precisa de um período sabático para rever conceitos (por exemplo, não existe uma lei que o obrigue a escalar, invariavelmente, dois centroavantes) e recomeçar em grande estilo. Aos 46 anos, ele carrega com orgulho um trabalho brilhante no Burnley e uma mudança de filosofia no Bolton, que deu certo até aquela semifinal da FA Cup. A partir dali, o time perdeu 32 de 54 partidas de liga. Inegavelmente, foi um marco negativo.
Coyle ainda é um dos bons alunos da escola escocesa de treinadores. Ainda é o homem que devolveu o sorriso a Andy Cole, com quem trabalhou no Burnley. “Seu entusiasmo me transformou novamente num garoto de 21 anos”, diz o ex-atacante. Ainda é uma referência para desenvolver jogadores jovens – Chelsea e Arsenal lhe emprestaram Sturridge e Wilshere, respectivamente. Coyle ainda tem salvação.